As políticas tarifárias do então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e os riscos de inflação e desaceleração econômica global resultaram em uma evasão significativa de investimentos estrangeiros da Bolsa brasileira. Até 16 de abril, foram retirados R$ 10,885 bilhões em recursos externos, eliminando os R$ 10,642 bilhões captados no primeiro trimestre de 2025.
Dados da B3 indicam um fluxo negativo de capital externo, registrado em R$ 242,979 milhões. Desde 28 de março, a saída de recursos tem ocorrido ininterruptamente, intensificando-se após o anúncio de tarifas recíprocas pelos EUA em 2 de abril.
O Citi observa que a disputa comercial entre Estados Unidos e China alterou drasticamente o sistema de comércio global, afetando de forma severa a demanda por mercados emergentes. Apesar de o Brasil ter sido menos impactado, com uma tarifa de 10%, não conseguiu deter a fuga de capital externo. Raphael Figueredo, da XP Investimentos, atribui esse movimento ao sentimento de aversão ao risco desencadeado pelas tarifas e pelo temor de recessão na economia americana.
Uma pesquisa do Bank of America revela que apenas 6% dos gestores de fundos da América Latina estão assumindo mais riscos do que o habitual, uma queda notável em relação aos 21% de março.
Ian Lopes, economista da Valor Investimentos, expressa ceticismo quanto a uma melhora nesse cenário, dada a imprevisibilidade da estratégia de Trump. O próprio Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, reconheceu que a incerteza relacionada a tarifas tem gerado volatilidade e riscos inflacionários.
O Citi prevê que as negociações comerciais continuarão confusas, o que pode intensificar a saída de capital de mercados emergentes. Em meio a esse cenário volátil, investidores buscam ativos mais seguros, como o ouro, que tem alcançado sucessivos recordes históricos.
Caso o ambiente externo se estabilize, o Brasil pode voltar a atrair investidores estrangeiros, especialmente com a expectativa de redução na Selic a partir de maio. Segundo Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, a diminuição dos juros pode beneficiar os balanços corporativos, possibilitando a retomada do fluxo expressivo de recursos visto no início do ano.
Esta conjuntura reflete um momento crítico para a economia global, exigindo monitoramento contínuo e estratégico do cenário internacional e seus desdobramentos sobre o mercado de investimentos no Brasil.