Na primeira reunião de chanceleres do BRICS com a presença dos 11 países membros após a expansão do bloco, não foi possível chegar a uma declaração conjunta. No entanto, a presidência brasileira conseguiu um comunicado criticando a guerra tarifária e as medidas ambientais que impactam diretamente o Brasil.
Os ministros expressaram preocupações com o aumento de medidas protecionistas unilaterais, consideradas injustificadas e inconsistentes com as normas da Organização Mundial do Comércio (OMC). Estas medidas, de natureza tarifária e não tarifária, foram destacadas como causas de perturbações na cadeia global de suprimentos, aumentando a incerteza econômica mundial, segundo o comunicado final. A declaração, no entanto, não mencionou explicitamente os Estados Unidos ou a União Europeia como responsáveis pelas medidas criticadas.
A tentativa da China de incluir críticas diretas às tarifas norte-americanas, que chegam a 145%, e a busca por um texto mais severo, não teve êxito em receber apoio unânime.
Apesar do consenso entre os países sobre algumas questões, o acordo para uma declaração conjunta não foi alcançado. Disputas internas surgiram, especialmente em torno da reforma do Conselho de Segurança da ONU, uma questão crucial para o Brasil. O bloco, que recentemente recebeu Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Indonésia, Egito, Etiópia e Irã como novos membros, enfrenta desafios com os diferentes interesses regionais desses países.
A ampliação do BRICS, embora aumente poder e recursos, também traz a necessidade de mais negociação para alcançar consensos. Um exemplo é o desacordo entre Egito e Etiópia sobre a inclusão da África do Sul como candidata a uma vaga permanente no conselho reformado, rompendo um acordo anterior do bloco.
O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, confirmou que certos avanços foram feitos em questões prioritárias, principalmente quanto às barreiras comerciais “injustificadas”. A estratégia brasileira visa manter o sistema de comércio multilateral ativo, evitando retóricas de condenação aos Estados Unidos.
Outro ponto relevante abordado foi o incentivo ao uso de moedas locais para intensificar o comércio entre os membros do BRICS, reduzindo a dependência do dólar e o custo das transações, embora sem considerar a criação de uma moeda única do bloco.
As tratativas continuarão em busca de uma declaração de consenso até julho, quando os líderes dos países do bloco se reunirão para a cúpula dos BRICS, no Rio de Janeiro.