Torcedores do Arsenal, organizados no grupo “Gunners for Peace”, mobilizam-se em protesto contra o patrocínio “Visit Rwanda”, presente na manga do uniforme do clube. A ação surge em resposta ao suposto apoio do governo de Ruanda à milícia M23, envolvida no conflito da República Democrática do Congo (RDC).
No contexto dessa mobilização, os torcedores lançaram a campanha “Visit Tottenham”, uma referência provocativa ao principal rival do Arsenal. A iniciativa foi justificada por meio de um vídeo nas redes sociais, que rapidamente ganhou atenção.
.@Arsenal is a great club. We have standards.
Which is why Visit Rwanda needs to end. This is the same regime that’s funding a brutal militia with thousands of victims in Eastern Congo. We think anything – literally anything – would be better than Visit Rwanda.
Even Tottenham pic.twitter.com/rngJhzBKq4— Gunners For Peace (@gunnersforpeace) April 22, 2025
A mensagem contida no vídeo destaca: “Não queremos que o nosso clube venda a alma a quem pagar mais. Achamos que qualquer coisa — literalmente qualquer coisa — seria melhor do que Visit Rwanda.”
Recentemente, a RDC enfrentou um novo surto de violência que resultou no deslocamento de milhares de civis. Esse aumento de tensão se deu após um grupo rebelde, supostamente apoiado por Ruanda, tomar controle de uma cidade na região leste do país. A ONU classificou as condições de sofrimento geradas pelo conflito como “verdadeiramente inimagináveis”.
O acordo de patrocínio entre o Arsenal e o governo ruandês, iniciado em 2018, atualmente vale 10 milhões de libras (aproximadamente R$ 75 milhões) por temporada, com o objetivo de impulsionar o turismo em Ruanda.
De acordo com Ivan Martinho, professor de marketing esportivo da ESPM, o patrocínio deve refletir valores comuns entre a marca, o clube e seus torcedores. Quando essa conexão quebra, a resposta dos fãs é imediata e vigorosa. “Diferente da publicidade tradicional, o patrocínio se insere no espaço emocional do torcedor. O impacto é intenso, pois a presença na camiseta do Arsenal torna essa questão pessoal.”
Além disso, muitos torcedores desaprovam a decisão do clube em aceitar apoio financeiro de um governo considerado autoritário, que provém de uma nação onde as condições de vida são bastante precárias.
“O protesto dos torcedores do Arsenal traz à tona duas questões chave. Economicamente, patrocínios controversos podem prejudicar a reputação do clube e impactar relações com marcas futuras. Em um contexto emocional, a luta dos fãs revela como sua identidade está entrelaçada com valores éticos. Quando a paixão pelo clube é colocada em conflito com essas questões, o apoio pode se transformar em resistência”, analisa Bruno Brum, CMO da Agência End to End.
Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports, observa que o fenômeno do sportswashing é um problema recorrente no esporte. “A postura dos torcedores do Arsenal é interessante. A fonte de financiamento nunca deve sobrepor os valores e a tradição do clube”, conclui.